1. Renascença

No século XIII, a IV Cruzada terminou com a invasão de Constantinopla e a implantação do catolicismo no Império Bizantino. Nos séculos XIV e XV, o avanço turco sobre a Europa Oriental provocou uma intensa migração de intelectuais ortodoxos para a Europa católica, principalmente para os centros universitários da Itália. Esse movimento migratório se consolidou com a queda do Império Bizantino em 1453. A influência dos intelectuais ortodoxos introduziu na universidade católica a discussão filosófica sobre estética, política, ciência, entre outras coisas, separando a Filosofia da Teologia. A imprensa de Gutenberg (1439) espalhou esse debate fora da universidade.

Em parte por causa da proximidade da Filosofia clássica com o conceptualismo, corrente escolástica mais popular entre os burgueses, mas também pelo descrédito que a Igreja sofria pelos fracassos acumulados nas Cruzadas, a intelectualidade do século XV aos poucos viu crescer o número de estudiosos que se declaravam anti-clericais e até mesmo ateus. Além disso, o desconhecimento da história cotidiana da civilização greco-romana levou à percepção errada de que o racionalismo filosófico era generalizado no período clássico. A partir dessa idealização, formou-se uma compreensão de que a Idade Média representava um retrocesso no progresso humano, principalmente devido ao poder da Igreja, a quem se acusou de ser contra o progresso da Ciência.

Surgiu, então, a Renascença (também conhecida como Renascimento Cultural e Artístico), um movimento de intelectuais e artistas que tinha como proposta resgatar o racionalismo, a sofisticação e o conhecimento que, acreditava-se, tinham se perdido com a ascensão do catolicismo. Não se tratava de negar a religião, mas de se colocá-la em segundo plano para que o ser humano se tornasse o principal condutor de seu destino. Deus passou a ser visto como um observador distante, que só eventualmente interfere no mundo e que deseja a felicidade do homem já na vida terrena.

O conceito burguês-renascentista de felicidade pode ser resumido em suficiência material e reconhecimento social. Para isso, três atividades eram consideradas essenciais: o comércio e a ciência, que permitiriam uma vida confortável, e a arte, que traria novas experiências sensoriais.

A Renascença transformou a burguesia no grupo social mais influente da Europa Ocidental. A riqueza acumulada permitiu à burguesia investir no mecenato, o patrocínio às artes e ciências. Também viabilizou um elevado padrão de consumo e comportamento, que criou uma imagem de prosperidade, sofisticação e felicidade invejada por todos. A fim de não perder prestígio junto às camadas populares e também desejosos de desfrutar da felicidade, o Alto Clero e a Nobreza foram obrigados a gastar fortunas para imitar os hábitos da burguesia mercantil, que logo percebeu as vantagens econômicas de ser a principal referência de comportamento, mudando constantemente de hábitos, o que criou a cultura de moda e culto à celebridade.